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Aquela criança com AID$





Hiura Fernandes e Lírio Fernandes, RN,

12minStill: Osani


Uma graciosa, forte e poética excessão!

Nas teorias da crítica cinematográfica existem alguns caminhos possíveis de serem seguidos para se falar sobre uma obra. Análise semiótica, análise referencial, análise contextual, dentre outras. Confesso que depois de assistir repetidas vezes “Aquela criança com AID$” me encontrei sem respostas sobre que caminho seguir para que contemplasse toda a poesia de Hiura Fernandes e Lírio Nascimento neste trabalho.


Lili, uma gota de sol sobre a terra, segura na mão do espectador e por 12 minutos o leva até o seu mais íntimo. Seus anseios, sua família, suas alegrias e seus ódios. Desde sua dor ao enterrar dois amigos até sua mais genuína felicidade ao brincar no mar e fazer a água subir a chutes e pulos.


A obra usa de variadas linguagens e formatos para construir aquela narrativa. Dentre elas, a que mais se repete e mais se destaca são as performances. No ato intitulado envelhecer, o artista em cena utiliza de uma pintura corporal e tecidos fluidos e reluzentes enquanto está na água, diz ser água e com a mesma fluidez da água se apresenta. São utilizadas metáforas sobre a água e através dela aquele corpo em cena fala da sua vida na infância e sua relação com duas das suas cinco mães. O artista diz ser feito de todas as lágrimas que suas mães não tiveram tempo de chorar.


Ainda sobre os atos, dentre eles existe um com nomes repetidos, me questiono sobre a finalidade da repetição. Seria uma forma de mostrar a maturidade adiquirida por Lírio desde muito cedo em função do tratamento? “Crescer parte 1” e “crescer parte 2” são caminhos diferentes na construção do indivíduo.


Um outro trecho que apesar de curto abre um espaço muito grande para discussões é quando o protagonista se questiona sobre como corpos semelhantes ao dele serão tratados nos artigos acadêmicos. Trabalhos acadêmicos, bem como a medicina e a mídia impressa e digital, são ferramentas de fortalecimento e extensão do discurso, a forma como esses corpos são retratados nesses espaços podem contribuir para a estigmatização dos mesmos tanto quanto pode contribuir para a construção de novas narrativas.


Algumas frases chamam muita atenção e merecem aqui ser relembradas, dentre elas destaco "transbordei amor, mas o amor pra mim foi escasso" e "sou uma graciosa exceção". Estes trechos evidenciam ainda mais toda a poética presente na obra e a delicadeza com que é abordado o tema.


Texto produzido como produto final da oficina de crítica cinematográfica ministrada por Cecília Barroso durante a programação da 3ª Macambira - Mostra de Cinema de Mulheridades e Dissidentes de Gênero. Autoria de Carolina Tavares e Revisão Rosy Nascimento.


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